1. Crônicas - Introdução




    Muita gente viu a USCS nascer. Muitos continuaram vendo sua evolução. Alguns têm o privilégio de festejar o cinquentenário. Outros chegaram há pouco tempo, mas já têm tanto para contar!


    Recebemos diversas histórias contando os cinquenta anos da Instituição. Uma melhor que a outra.


    Saboreie essa verdadeira viagem no tempo contada por quem fez a história desta universidade.


  2. Que ano mais sem graça aquele de 1968

    Prof. Antonio Carlos Gil

    Em março, no Rio de Janeiro, o estudante Edson Luís, de 16 anos, é morto com um tiro no peito em uma manifestação no restaurante que funcionava na União Nacional dos Estudantes. Em abril, um atentado a bomba, destrói a entrada do prédio da redação do jornal O Estado de S. Paulo. Nesse mesmo mês, nos Estados Unidos, o Reverendo Martin Luther King, ativista contra a segregação racial, é assassinado. Em maio, uma bomba explode na porta da Bolsa de Valores em São Paulo. Em junho, é realizada no Rio de Janeiro a Passeata dos Cem Mil, contra o regime militar, organizada pelo movimento estudantil, mas no mês seguinte o então Ministro da Justiça proíbe as manifestações de rua em todo o país. Em agosto, tropas soviéticas invadem a Tchecoslováquia e colocam fim ao sonho do socialismo com face humana, iniciado com a Primavera de Praga. Em outubro, pouco antes da abertura dos Jogos Olímpicos, na cidade do México, mais de 200 estudantes morrem em confronto com a polícia. Nesse mesmo mês, bem próximo daqui, em Ibiúna, são presos mais de 700 estudantes que participavam clandestinamente do trigésimo congresso da União Nacional dos Estudantes.


    E para mal finalizar, em dezembro, o Governo Militar decreta o Ato Institucional n. 5, que marcou o início do período mais duro da ditadura militar, que, no dizer de Élio Gaspari, de envergonhada passou para escancarada. Esse ato deu ao regime poderes para reprimir seus opositores, fechar o Congresso Nacional, cassar mandatos eletivos, suspender direitos políticos de qualquer cidadão e suspender o direito de habeas corpus para crimes políticos. E possibilitou a edição do Decreto 477, responsável pela prisão e afastamento da universidade de professores que ousavam desafiar os limites impostos à liberdade de pensamento.


    Mas foi justamente neste ano em que se ergueram lealdades e bandeiras que, às vezes um pouco desbotadas, continuam sendo vistas no cenário político. Foi, pois, o ano que o jornalista e hoje acadêmico Zuelmir Ventura chamou de ano que não terminou. E foi justamente neste ano que o antigo IMES, ou a moderna USCS, começou.


    Mas que escola mais sem graça nos ofereceram em 1968.


    Não era uma universidade. Não era um centro universitário. Era apenas e oficialmente um instituto isolado. Não era uma escola estadual. Muito menos federal. Apenas uma escola municipal.


    Não tinha uma casa própria. Funcionava numa casa emprestada. Que parecia aquela casa muito engraçada, que não tinha teto, não tinha nada. Lá era difícil fazer xixi, porque no banheiro mal se cabia ali. Na casa daquele grupo escolar, só depois que os meninos e as meninas saiam, e quando a noite já caía, é que nas poucas classes da metade do andar de cima é que sem qualquer pompa as aulas começavam a ser ministradas. Assim é que a Faculdade Municipal de Ciências Econômicas, Políticas e Sociais começou.


    De faculdade passou para instituto, de instituto para centro, de centro para universidade. Continua municipal, mas já se empenha em ser internacional. Nesse percurso nem sempre foi possível às escolas falar só de flores. Quantas não sucumbiram. Quantas em vão resistiram! Quantos professores desanimaram! Quantas municipalidades esmoreceram! Quantos estudantes ficaram por se formar!


    Mas aqui estás, USCS. Ficastes de pé quando muitas de tuas coevas já tombaram. E no início desta segunda metade de teu primeiro século, o que te dizer?


    As ameaças às escolas não são fantasmagóricas. São cada vez mais impressionantemente reais. Já se vaticinou o fim dos títulos acadêmicos, o fim dos exames, o fim dos livros, o fim dos professores e o fim da própria escola. Como as ameaças são reais, é preciso ser realista. Mas não podemos abdicar de nossos ideais. Temos de ser idealistas. Buscando, com os pés no chão, alcançar as estrelas.


    Assim, para cada ameaça que se abater sobre a USCS, vamos responder uma esperança. Da mesma forma como o Príncipe dos Poetas Brasileiros anunciou em sua prece natalícia à nossa Capital:


    Chuva que e inunde
    Vento que te açoite
    Bruma que te agoure
    Raio que te incendeie
    Tu secarás a chuva
    Abaterás o vento
    Apagarás o sol
    Dissiparás a bruma
    Conjurarás o astro
    Embotarás o raio.


    Minha pequena contribuição

    Angelo Marchetti

    Em 1967, como resultado de um acordo firmado entre a Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul, na pessoa do prefeito Hermôgenes Walter Braido e a Ação Social Padre Saboia de Medeiros, implantava-se a ESAN – Escola Superior de Administração de Negócios.


    Devido à grande procura, no ano seguinte, em 1968, o vestibular foi realizado para o preenchimento de mais 3 salas de aulas, estimando-se aproximadamente 150 vagas.


    Residindo na Mooca, porém prestando serviço em Utinga, na ALCAN, vi aí uma oportunidade de frequentar um curso superior. Foi o que fiz: prestei vestibular e fui aprovado.


    Iniciamos as aulas, e em princípio, tudo era novidade, porém com o passar do tempo, começamos a observar alguns problemas ocasionados com a falta de diálogo entre as partes, cuja relação começava a se deteriorar.


    Em razão disso, a Prefeitura que havia prometido a entrega de um novo prédio, onde deveria funcionar o Curso de Administração, Economia e Ciências Sociais, começou a divulgar a possibilidade de rescindir o contrato com a Ação Social, e com isso o curso de Administração estaria sendo transferido para São Bernardo do Campo, o que não nos agradava.


    Em virtude de uma série de contatos que fiz, percebi que a não aceitação era total.


    Confesso um certo desconforto, por não residir em São Caetano, porém um dos colegas que consultei foi o Amigo Silvio Augusto Minciotti, que informou não residir na cidade, porém havia um bom relacionamento com as pessoas que respondiam pela Administração da Faculdade.

    Em função disso, iniciamos a mobilização, organizando um abaixo assinado, incluindo os problemas que estávamos enfrentando, como: completo desinteresse da escola em atualizar o currículo, atraso não justificado no pagamento dos professores e que acarretava em sensível decréscimo no nível de ensino, falta de interesse dos superiores responsáveis pela escola em resolver os problemas que estávamos enfrentando, entre outros.


    Esse abaixo assinado contou com aproximadamente 150 assinaturas, entregue ao responsável pela escola que encaminhou a Prefeitura, e a partir disso iniciou-se o diálogo.

    Em princípio surgiu resistência na fixação de um acordo, o que prevalecia era a rescisão, do acordo, e com isso mantida a ideia de transferência do curso de Administração para São Bernardo, o que não agradava a totalidade dos alunos envolvidos.


    Nessa ocasião, eu respondia pelo Subdiretório da ESAN. Reuni alguns colegas, e concluímos que deveríamos nos mobilizar e, com isso, procurar resolver a situação.


    Como primeira iniciativa, solicitamos uma matéria no Diário do Grande ABC, publicada em 23 de junho de 1968, com o objetivo de comprometer o Prefeito da época, em manter o curso na cidade, e não, transferir para São Bernardo, e foi o que conseguimos.


    O passo seguinte era rescisão do acordo. Várias reuniões e promessas foram realizadas, porém não cumpridas.


    Diante disso, o que nos restava era uma ação radical, e foi o que aconteceu, iniciamos uma greve, em um momento difícil, pois a UNE – União Nacional dos Estudantes estava mobilizada em todo país.


    Várias reuniões foram realizadas, não só com o Prefeito, mas também com representantes da Ação Social, até que em 09 de janeiro de 1969, em uma reunião do Conselho Diretor da Ação Social Padre Sabóia de Medeiro, o Convênio foi rescindido.


    Com isso, criou-se o IMES e posteriormente a USCS, que confesso tenho orgulho de ter dado minha pequena contribuição para que isso acontecesse.


  3. Apelido e lições de vida

    Wagner Antonio Natale

    Final da década de 1960, eu havia terminado o curso Técnico em Contabilidade no Instituto de Ensino de SCS, era hora de entrar na faculdade.


    A ESAN estava se transformando no IMES e foi lá, em 1969, que dei início à minha carreira.


    Ocorre que nesse ano eu completava 19 anos e teria de servir o Tiro de Guerra, mas, além de estudar, eu precisava trabalhar.


    Optei por fazer o TG no horário das 5 às 7 horas da manhã; das 8 às 17h30 trabalhava na Viação São Caetano Penha e às 19 horas entrava na faculdade, de onde saia após as 22 horas.


    Num dos primeiros dias tivemos aula de Contabilidade. Por ser formado nessa matéria, e estar exausto, acabei dormindo, apoiando a cabeça na carteira (mesa), o professor, um homem muito alto e forte se aproximou e sutilmente e, com o pé, tocou meu pé, para eu acordar. Dei um salto, me coloquei em pé, fiz continência e disse: “− sim senhor, sargento”, como se estivesse no TG. A classe inteira caiu na gargalhada.


    A partir daquele momento e até hoje, adquiri, dos colegas, o apelido de “Soneca”.


    Mesmo estudando com sono, me esforcei, pois sabia que o país passava por um momento de crescimento significativo, havia muita necessidade de mão de obra qualificada e a formação Universitária era imprescindível para as empresas que queriam crescer.


    São Caetano do Sul está inserido no circuito das indústrias automobilísticas, a GM era a principal empregadora da cidade. Nosso professor de Recursos Humanos era titular da área na GM: Prof. Edson William Cerviglieri, e nos dava, além da informação acadêmica, aspectos práticos da matéria.


    Tivemos muitos grandes nomes como professores.


    Dentre eles, o Professor de Economia Orestes Gonçalves, que tinha uma postura altiva, trajava-se impecável, dizia ele que “só usava ternos da Old England”, uma loja de marca, do centro de São Paulo. Com isso ele demonstrava que era muito exigente com sua aparência e, por conseguinte, com todos os outros itens da vida: “vocês, como profissionais de Administração de Empresas, terão de se apresentar pela empresa, por vezes, representar o empresário, então, tem de saber se apresentar, falar bem, com segurança, mas se não estiverem apresentáveis, não receberão atenção”.


    Assim sendo, quando fazíamos um trabalho da matéria, cada membro do grupo tinha de apresentar sua parte, oralmente, para toda a classe e a instrução era a seguinte: “Primeiramente você tem de apresentar VOCÊ; depois explicar por que decidiu estudar Administração de Empresas. E, finalmente, qual seu objetivo futuro”.


    Essa exigência fazia parte de sua didática para que os jovens alunos, além das instruções acima, perdessem a inibição frente ao público.


    Eu levei a sério, certo dia, quando fui apresentar meu primeiro trabalho ao Prof. Orestes. Fiz minha autodescrição e, ao terminar, acabei fazendo “meu comercial”, dizendo: “− este sou eu e estou procurando uma nova colocação, se alguém souber de alguma oportunidade, por favor me informe”.


    No final da aula, o aluno José Adonis Fogaça, que era contador da Casa Bahia, me chamou e disse: estamos com uma vaga em aberto. Fui admitido, trabalhei lá por 18 anos e cheguei à superintendência. Lá aprendi muito e em 1977 me associei a outro colega do IMES, Raul Pinto de Moraes, na REBAL Coml. Ltda. em 1988, quando saí da Casa Bahia e passei a me dedicar exclusivamente à REBAL. Hoje a empresa conta com 94 colaboradores, são 94 famílias que são sustentadas pelo emprego gerado com os conhecimentos adquiridos nessa importante instituição “IMES”, que fez toda diferença na condução de minha vida.

  4. USCS – Grande obra coletiva

    Prof. Silvio Augusto Minciotti

    Qualquer instituição brasileira vinculada à Administração Pública só conseguirá crescer e prosperar se for aceita como uma obra coletiva e assim foi com o nosso querido IMES, atual USCS. Ele foi adotado como objetivo de vida comum a todos que nele atuavam e, por isso, conseguiu alcançar a grandeza que ostenta hoje.


    Sem muito apego a datas, o fato aqui narrado é apenas um retalho muito pequeno dessa fantástica história que chega hoje ao seu cinquentenário. Convido-os a regredirem ao tempo em que a Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul fizera um convênio com a Fundação Padre Saboia de Medeiros para instalar na cidade um curso da ESAN - Escola Superior de Administração de Negócios, faculdade por ela mantida e pioneira na implantação dos cursos de Administração de Empresas no país. Por razões que não cabem aprofundar nesta abordagem, o convênio não evoluiu como se esperava e surgiu um movimento dos estudantes para que o curso fosse incorporado à então Faculdade Municipal de Ciências Econômicas, Políticas e Sociais, também recém-criada no município. Esse processo evoluiu e resultou no rompimento do convênio.


    Entretanto, essa incorporação do curso se transformou em uma corrida contra o tempo, felizmente bem-sucedida. Uma legislação Municipal criando a Faculdade Municipal de Ciências Econômicas, Políticas, Sociais e Administrativas foi aprovada em tempo recorde. Além disso, com o apoio do Secretário de Educação, Dr. Oscar Garbelotto, e por interferência do Prefeito Hermógenes Walter Braido junto ao Governador Laudo Natel, o Conselho Estadual de Educação foi, de forma surpreendente, convocado emergencialmente de seu recesso anual para aprovar a incorporação do curso, em tempo hábil para que não se perdesse o ano letivo.


    Não bastasse esse enorme esforço ter alcançado êxito, era necessário superar outro grande obstáculo: o prédio que estava sendo construído para acolher originariamente a ESAN, na Av. Goiás nº 3.400 (atual prédio B do Campus Barcelona), precisava ficar concluído, uma vez que o local destinado à nova Faculdade Municipal de Ciências Econômicas, Políticas, Sociais e Administrativas não conseguia abrigar a todos.


    Esse era um momento em que não havia mais volta, pois se esgotara o prazo concedido pela ESAN para aceitar transferências dos alunos de São Caetano do Sul, em suas unidades de São Bernardo do Campo (junto à FEI) ou São Paulo. A liderança do movimento estudantil mantinha em seu poder um documento assinado por mais de 160 estudantes, mantendo seus pedidos de matrícula na nova faculdade e, naquele instante, tudo dependia da entrega do prédio.


    Como eu exercia atividade profissional externa, passei a visitar quase diariamente a obra e numa dessas visitas me deparei com entrevero entre o engenheiro responsável e o arquiteto da obra. Me aproximei e ouvi a reclamação do arquiteto com relação às vigas de sustentação do telhado, cujo acabamento não permitia a adequada formação de relevos, os quais eram necessários para dar o efeito visual de luz e sombra quando essas vigas fossem iluminadas, a partir dos dois pontos de luz existentes até hoje nas extremidades, embora sem uso. Após algum tempo em discussão, o engenheiro enfurecido se rendeu e disse “está bem, vou refazer todo o acabamento das vigas, porém, o prazo de entrega da obra vai pro beleléu (sic)”. Os dois trocaram mais alguns agravos e estavam se afastando, quando entre pânico e desespero resolvi intervir e os chamei. Resistiram em se aproximar, porém insisti e lhes expliquei o que significava aquela obra para os estudantes que dependiam dela para seguir seus estudos. O arquiteto oferecia resistência e só depois de muita argumentação e persistência ele concordou em deixar as vigas como estavam, e estão até hoje, sem alcançar o efeito visual que ele almejava. O engenheiro também entendeu a importância da obra e, assim, o prédio ficou pronto a tempo e a incorporação do curso de Administração se efetivou à nova faculdade, a qual pouco tempo depois se transformou em IMES – Instituto Municipal de São Caetano do Sul.


    Esse pequeno episódio ilustra como a integração dos esforços de muitos foi necessária para conduzir o velho IMES à pujante USCS de hoje.


  5. 41 anos de história

    Antonio Aparecido de Carvalho

    Segue aqui uma história de vida na qual a USCS está presente há mais de 41 anos. A história será contada na terceira pessoa, porque tudo parece um enredo de um livro, ou de um filme, ou de uma peça de teatro, ou ainda um romance.


    Toda a história tem início no ano de 1971, quando um garotinho de 13 de anos de idade acompanhava a mãe até Utinga para ir a um depósito de material de construção para comprar tijolos, telhas, pisos, azulejos, sanitários e outras coisas do gênero para construção da casa da família em São Caetano do Sul. Na volta das compras, o filho e a mãe passavam em frente a um grande prédio situado na Avenida Goiás.


    O garotinho perguntou para a mãe: O que é aí, é uma escola? A mãe respondeu: é uma faculdade. Faculdade do que? Não sei, respondeu a mãe.


    A construção ficou pronta, o garotinho cresceu e já se fazia necessário escolher uma profissão. Esse menino não sabia, ao certo, o que queria para o resto da vida, dúvida que assombra todos os jovens na fase pré-vestibular. Uma das tias, do agora jovem, tinha um patrão que era administrador de empresas, e logo o jovem pediu para a tia levá-lo até a casa do patrão para saber o que ele fazia.


    O jovem fez então a primeira pesquisa de campo da sua vida, e acabou gostando e se interessando pelas atividades daquele senhor. Quando chegou em casa, falou para os pais que queria ser administrador de empresas.


    A mãe pensou: Será que aquela faculdade que nós passávamos em frente tem esse curso que ele quer? No dia seguinte, mãe e filho foram até lá para ver se tinha o curso. Sim, a faculdade tinha o curso de Administração, de Ciências Econômicas e de Comércio Exterior.


    Ao terminar o curso do segundo grau, o jovem queria prestar vestibular naquela faculdade, porém, antes de o jovem fazera inscrição, o pai sofreu um acidente e a situação financeira da família ficou difícil. O jovem via aí seu sonho de cursar aquela faculdade ruir.


    As tias do jovem, apesar do pouco estudo e baixa renda, contribuíram financeiramente para que o jovem pudesse, ao menos, fazer a inscrição para prestar o vestibular. Então, no final do ano de 1976, a mãe e o filho foram até a faculdade fazer a inscrição, porém o dinheiro estava contado e seria necessário adquirir também o manual para estudar o conteúdo para as provas. Se o manual fosse comprado não haveria dinheiro suficiente para as passagens de ônibus para a volta para casa. A mãe comprou o manual e ambos voltaram a pé para a casa. Demoraram por volta de 1 hora 40 minutos.


    Nos dias anteriores ao vestibular, o jovem estudou muito, pois ele não poderia ser reprovado, não havia a possibilidade de pagar inscrição para o vestibular em outra faculdade.


    Chegou o dia do vestibular, o jovem, ao sair, estava na dúvida se havia conseguido ou não.

    Quando saiu o resultado, ele foi aprovado numa excelente classificação. Toda a família ficou feliz com o resultado, afinal, ele seria o primeiro de vários primos a frequentar uma faculdade. Contudo, para iniciar o curso seria necessário fazer a matrícula, e a situação financeira continuava difícil.


    A mãe e as tias compraram um ventilador vermelho e branco e fizeram uma rifa, e conseguiram angariar o valor referente à matricula.


    No ano de 1977, o jovem estava matriculado no curso de Administração do IMES – Instituto Municipal de Ensino Superior. Assim começava o processo de transformação daquele jovem de 18 anos e de toda sua família.


    A entrada em sala no primeiro dia de aula foi como entrar num mundo totalmente diferente rente daquele que aquele jovem estava acostumado, muitas informações, professores com muito conhecimento, muitas atividades, muitas pesquisas, trabalhos em grupo.


    A princípio, veio o sentimento de incerteza e as perguntas: Será que ele faz parte deste novo mundo? Será que ele será aceito? Será que conseguirá chegar ao final do curso? Será que conseguirá pagar as mensalidades? Passados os primeiros dias, todas as respostas foram surgindo: Sim, ele faz parte deste novo mundo. Sim, ele se fará ser aceito. Sim, ele se esforçará para chegar ao fim do curso. Sim, ele vai conseguir um emprego em breve.


    Os dias foram passando e, cada vez mais, o jovem foi tomando gosto por tudo aquilo, conseguia boas notas nas provas, todos queriam estudar com ele, mas ainda tinha de vencer a timidez para falar em público.


    Por estar cursando uma universidade, rapidamente conseguiu um emprego num banco privado, e ali foi construindo uma carreira, foi galgando postos de chefia, maiores responsabilidades, visitas a clientes, a timidez foi sendo vencida aos poucos.


    Os anos foram passando e cada vez mais o jovem ia se aprofundando nos estudos e gostando e se sentindo mais à vontade, foi construindo amizades e levando mais conhecimentos para as atividades profissionais, o que aprendia com os professores em cada disciplina era aplicado nas rotinas das atividades profissionais.


    O ano de 1979 foi um marco na vida dele, as duas salas de Administração existentes das turmas dos terceiros anos se juntaram, e aquele jovem conheceu uma aluna recém-chegada da cidade de Penápolis, que estudava Administração em Marília e havia mudado para São Caetano do Sul e escolhera o IMES para terminar os estudos A princípio, nascia uma amizade, que com o tempo se transformou em namoro, noivado e casamento. Hoje os dois estão juntos e completam 32 anos de casados e felizes com os dois filhos que tiveram.


    Os dois se formaram como bacharéis em Administração pelo IMES no ano de 1980. Ele continuou os estudos no IMES, pois gostava muito de estudar e não queira deixar a vida acadêmica pela qual havia se fascinado, cursou então Ciências Econômicas, a segunda formatura foi em 1982, a carreira no banco continuava em evolução, passara à função de operador de mercado de capitais, depois veio a função de contador, de subgerente de agência, de gerente de posto de atendimento em empresas.


    No ano de 1986, os dois se casaram, ela funcionária de um banco público e ele funcionário daquele banco privado em que iniciou em 1977. O primeiro filho chegou em novembro de 1988. Em 1989 ele já havia atingido o máximo na escala profissional naquele banco, resolveu então prestar concurso público para um banco público. Graças aos conhecimentos adquiridos nos dois cursos de graduação do IMES, obteve excelente classificação e em julho daquele ano tinha início uma nova fase profissional.


    A princípio estava no cargo de escriturário, com o passar dos anos e com o desempenho assumiu os cargos de caixa executivo, supervisor, gerente de conta, gerente pessoa jurídica e gerente geral.


    Em agosto de 1990 nascia o segundo filho, mas a vontade de continuar os estudos sempre estava presente, em 1997 fez uma pós-graduação em finanças.


    Os filhos foram crescendo, ele e a esposa trabalhavam no mesmo banco público, cada um numa agência diferente, ela como caixa executivo e ele como gerente geral.


    Ele construiu uma carreira de sucesso, ajudou a formar gerentes, ensinou estagiários, difundia a todos a necessidade dos estudos. O amor pelos estudos continuava, foi aí que ele se aventurou a fazer um mestrado em administração.


    No ano de 2005 ele foi convidado para ser professor de Economia da primeira turma de um curso de Administração de uma Instituição de Ensino Superior de São Bernardo do Campo, ele aceitou.

    No primeiro dia de aula vieram à tona as mesmas dúvidas em relação ao início do curso superior.

    Seguindo o exemplo dos mestres e doutores que tivera no passado, levava em paralelo as atividades no banco e a docência. A princípio, ministrava aulas de economia, depois vieram matemática financeira, engenharia econômica, finanças e o convite para ser coordenador do curso de Administração.


    O curso de mestrado terminou no ano de 2007 e ele já ministrava aulas em três instituições de ensino na graduação e pós-graduação. Hoje, atua exclusivamente na instituição de ensino onde iniciou a carreira e desde 2009 é coordenador do curso de graduação em Administração Bardella daquela instituição.


    Os dois filhos se graduaram, fizeram pós-graduação e mestrado e, em paralelo com as carreiras em empresas, também atuam na docência.


    No ano de 2012 ele se aposentou do banco e se dedicou totalmente à carreira de docente, fez vários cursos de extensão, MBA em gestão do ensino, MBA em Marketing, mas faltava algo para complementar o conhecimento.


    No ano de 2016 resolveu concorrer a uma vaga no curso de doutorado em Administração da USCS, fez a prova escrita, entrevista, entregou o pré-projeto, fez o teste ANPAD e foi aprovado. Em fevereiro de 2017, após 40 anos do início da vida acadêmica naquela instituição, pôde retornar onde tudo começou. A emoção por estar de volta foi imensa, pensar naquele jovem de 18 anos, nas incertezas que passavam pela cabeça, lembrar de tudo que os estudos naquela instituição proporcionaram, no âmbito profissional e pessoal eram como um troféu, um grande prêmio.


    Na escolha do orientador da tese ele foi direcionado para o professor que ministrou a disciplina Estatística no segundo ando da primeira graduação, e ao longo do curso pôde rever outros professores que ministraram aulas na graduação, como a professora de econometria.


    Agora ele tem novos desafios: conciliar as atividades de docente, de discente e compromissos familiares, mas com o apoio da esposa e dos filhos tudo é possível. Os velhos tempos voltaram, passar as madrugadas estudando, pesquisando, escrevendo artigos, fazendo provas, apresentações de seminário, a construção da tese, trabalhos em grupo, aulas o dia todo, submeter artigos a congressos e revistas e esperar ansiosamente pelo resultado, vibrar com as aprovações, proceder as correções exigidas pelos editores, porém o mais importante é estar aberto para aprender todo dia com os professores e com os amigos de turma e, depois de aprender, repassar o conhecimento para os alunos.


    Dois semestres já se passaram, agora ele está no terceiro, as disciplinas obrigatórias foram cumpridas, as notas até então são excelentes. Muitos trabalhos foram aceitos em Congressos Nacionais e Internacionais, em junho próximo estará representando a USCS num Congresso em Portugal e pretende defender a tese no segundo semestre.


    Aquele jovem se transformou num senhor, foi gerente geral de um banco público, é professor e coordenador de curso superior, é autor de livro e artigos, faz palestras, ministra cursos, é paraninfo das turmas que se formam em Administração, faz campanhas assistenciais, auxilia na construção do conhecimento e da carreira de jovens.


    Quando está numa sala de aula se sente confortável e olha para seus alunos e vê em cada um aquele jovem que tinha sede de aprender, de conhecer, de vencer, de fazer parte daquele mundo e sabe que tem a missão de representar seus antigos professores e despertar o interesse pelos estudos, por nunca deixar de estudar.


    A história contada é minha, e tenho muito orgulho de ter vivido cada momento, de ter estudado, de ter repassado a mesma vontade para os meus filhos.


    Agora, com meus 59 anos de idade prestes a completar 60, percebo o quanto o IMES-USCS mudou a minha vida, o quanto as dificuldades do início me fizerem bem, o quanto contribuiu para que eu pudesse construir duas carreiras sólidas, a de bancário e a de docente do ensino superior, o quanto me espelho nos meus professores do passado e do presente para preparar minhas aulas, o quanto posso melhorar a cada dia e o quanto eu pude e posso retribuir o esforço das minhas tias, mãe e pai para que meus sonhos se concretizassem.


    Uma das maiores contribuições que o ambiente IMES- -USCS propiciou na minha vida pessoal foi a de ter colocado no meu caminho a mulher que me acompanha e me incentiva a cada novo projeto, que vibra com cada uma das minhas conquistas, e pensar que tudo começou com um grupo de estudos do qual eu era o líder. Com ela, eu me tornei pai, uma das funções que tenho maior prazer em desempenhar.